Cabos e Lâminas de Bisturi na Cirurgia Veterinária: Escolha, Função e Aplicabilidade

O bisturi é um dos instrumentos mais fundamentais na cirurgia veterinária. Tradicionalmente ele é composto por duas partes principais: o cabo e a lâmina. Juntos, esses componentes permitem incisões precisas e controladas nos tecidos, desde a pele até estruturas internas mais delicadas. Compreender a função de cada modelo e suas variações é essencial para que o cirurgião escolha corretamente o tipo de bisturi a ser utilizado em cada situação.

Função do Bisturi e Momento de Uso

O bisturi é utilizado principalmente para realizar incisões precisas na pele, fáscia, tecido subcutâneo, cápsula articular e vísceras. Ele é empregado principalmente no início do procedimento cirúrgico para abertura das camadas que darão acesso à região de interesse. Também é usado em etapas específicas da cirurgia que exigem incisões delicadas e bem definidas, como em enterotomias, cistotomias, gastropexia e incisões vasculares. Em determinadas vísceras, a técnica de incisão em estocada é empregada para penetrar diretamente no órgão por meio de um movimento rápido e controlado, utilizando uma lâmina afiada e pontiaguda garantindo acesso preciso com mínimo trauma tecidual.

A precisão do bisturi minimiza o trauma tecidual, reduz o sangramento e facilita a cicatrização, fatores essenciais para a recuperação pós-operatória. 

Cabos de Bisturi

Os cabos de bisturi são projetados para sustentar a lâmina com firmeza e permitir um manuseio preciso. Os modelos mais comuns na veterinária são:

• Cabo nº 3: compatível com lâminas pequenas (nº 10, 11, 12, 15); é mais leve e usado para incisões delicadas ou de menor profundidade.
• Cabo nº 4: utilizado com lâminas maiores (nº 20 a 25), ideal para incisões mais amplas ou em tecidos mais espessos.
• Cabos de bisturi para microcirurgia: como os modelos tipo Beaver, são utilizados em oftalmologia e microcirurgia devido ao seu tamanho reduzido e formato anatômico.

A escolha do cabo está diretamente relacionada à lâmina que será utilizada e ao tipo de cirurgia.

Lâminas de Bisturi: Tipos e Indicações

As lâminas são classificadas de acordo com seu formato e tamanho. Cada número corresponde a um modelo com aplicação específica:

• Lâmina nº 10: lâmina curva com corte amplo, ideal para incisões cutâneas longas e iniciais.
• Lâmina nº 11: pontiaguda e triangular, usada para punções, drenagens e incisões em locais profundos.
• Lâmina nº 12: em forma de gancho, ótima para incisões em regiões curvas ou pouco acessíveis, como mucosa oral.
• Lâmina nº 15: menor e mais precisa, utilizada em cirurgias delicadas, como oftálmicas ou neurológicas.
• Lâminas nº 20 a 25: maiores, associadas ao cabo nº 4, indicadas para incisões em regiões amplas ou tecidos mais resistentes.

Critérios para Escolha Adequada

A escolha da lâmina e do cabo depende de:

1. Tipo de tecido: tecidos densos exigem lâminas maiores e cabos mais robustos.
2. Profundidade e extensão da incisão: incisões longas requerem lâminas curvas; as curtas e delicadas exigem lâminas menores.
3. Espaço de trabalho: regiões anatômicas de difícil acesso exigem lâminas com pontas anguladas ou curvadas.
4. Precisão desejada: para cirurgias de alta precisão, como oftálmicas, lâminas pequenas são preferíveis.

Considerações Finais

A escolha adequada do bisturi, levando em conta o tipo de cabo e lâmina, é essencial para a segurança e eficiência do procedimento cirúrgico. A combinação correta contribui para incisões mais precisas, menor trauma tecidual e melhor recuperação do paciente. O conhecimento das características de cada modelo e sua aplicação clínica é uma competência fundamental para todo cirurgião veterinário.

Referências Bibliográficas (Norma ABNT)

1. FOSSUM, T. W. Cirurgia de Pequenos Animais. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.
2. TOBIAS, K. M.; JOHNSTON, S. A. Veterinary Surgery: Small Animal. 2. ed. St. Louis: Elsevier, 2012.