A Força Ideal para Fechar um Nó Cirúrgico: Equilíbrio entre Segurança e Preservação Tecidual

A realização de um nó seguro e funcional é uma das habilidades mais fundamentais da cirurgia. Entre os fatores que influenciam a eficácia de uma sutura, a força aplicada no momento do fechamento do nó, ou seja, a tração exercida pelo cirurgião, exerce impacto direto sobre a resistência do nó, a integridade do fio e a preservação dos tecidos.
Qual é a Força Correta?
Não existe um valor numérico fixo que represente a tração ideal para todos os casos, pois isso varia conforme o tipo de tecido, o calibre e o material do fio. No entanto, a premissa básica é: a força deve ser suficiente para aproximar os tecidos de maneira firme, mas sem estrangulá-los e sem danificar o fio de sutura.
Em outras palavras, o cirurgião deve aplicar uma tensão suficiente para manter a coaptação das bordas teciduais, mas evitar tensão excessiva que possa causar isquemia, necrose ou corte do tecido pelo fio.
Tensão do Fio e Comportamento dos Tecidos
O comportamento do fio sob tração varia conforme sua composição. Fios monofilamentares tendem a ter menor fricção e maior risco de escorregamento, exigindo mais cuidado na formação de nós múltiplos e firmeza controlada. Fios multifilamentares, por sua vez, aderem melhor e mantêm o nó com menos tensão, mas são mais suscetíveis à absorção de líquidos e à ação da capilaridade.
Nos tecidos, a resposta à tensão depende da sua vascularização e resistência intrínseca. Por exemplo:
- Tecido subcutâneo e gordura: muito sensíveis à compressão; devem ser suturados com mínima tensão.
- Fáscia e músculo: podem tolerar maior tração, desde que se evite garroteamento que comprometa a vascularização local.
- Intestino ou bexiga: exigem aproximação delicada para evitar necrose da borda e deiscência.
Como o Cirurgião Sabe se Deve Apertar Mais ou Menos?
O conhecimento vem com prática e observação. Existem alguns princípios que devem ser observados e seguidos:
- Sensação tátil: o fio deve “encaixar” sem deslizar, mas não deve “cortar” o tecido. Se houver depressão visível ao apertar o nó, a tensão é excessiva.
- Movimentação do tecido: ao aproximar as bordas, elas devem manter o contato espontaneamente após o nó, sem tração residual aparente.
- Resposta elástica: tecidos como intestino, bexiga ou vasos têm elasticidade natural. Se a borda retornar ao afastamento após o nó, o aperto está fraco. Se colapsar ou enrugar excessivamente, está apertado demais.
Além disso, o cirurgião pode utilizar a técnica de manter tração uniforme e controlada com ambas as mãos, garantindo que o aperto do nó seja progressivo e simétrico, evitando torque lateral e tensão assimétrica que prejudique a estabilidade.
Consequências da Tensão Inadequada
- Tensão excessiva: leva à isquemia tecidual, necrose marginal, deiscência da sutura e formação de cicatrizes irregulares.
- Tensão insuficiente: favorece o deslizamento do nó, abertura da ferida e maior risco de hemorragia, infecção e hérnias.
O equilíbrio da força aplicada é, portanto, um fator crucial para a cicatrização segura e funcional da sutura.
Conclusão
Aplicar a força correta ao cerrar um nó é um treino refinado da técnica cirúrgica. Mais do que força bruta ou precisão mecânica, ela exige sensibilidade tátil, conhecimento anatômico dos tecidos e domínio das propriedades dos fios. A força ideal é aquela que promove a união segura sem agredir o tecido: um equilíbrio que apenas a boa formação técnica e a prática constante podem proporcionar.
Referências Bibliográficas
- SLATTER, D. H. Textbook of Small Animal Surgery. 3rd ed. Philadelphia: Saunders, 2003.
- FOSSUM, T. W. Cirurgia de Pequenos Animais. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.
- TOBIAS, K. M.; JOHNSTON, S. A. Veterinary Surgery: Small Animal. 2. ed. St. Louis: Elsevier, 2017.
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