Como os cirurgiões escolhem suturas interrompidas ou contínuas?

A escolha do padrão de sutura durante um procedimento cirúrgico é uma decisão técnica fundamental que impacta diretamente a segurança e a cicatrização da ferida. Dentre as diversas opções disponíveis, os dois padrões mais utilizados são as suturas interrompidas e as contínuas. A preferência por um ou outro depende de múltiplos fatores relacionados à anatomia da região, à função dos tecidos envolvidos e aos objetivos específicos do cirurgião.

As suturas interrompidas são aquelas em que cada ponto é dado separadamente com seu próprio nó. Essa técnica permite excelente controle da tensão ao longo de toda a ferida, pois cada ponto pode ser ajustado individualmente. Isso é particularmente útil em áreas sujeitas a forças de tração desiguais, como em articulações, regiões móveis ou bordas de pele submetidas à tensão. Outra grande vantagem é a segurança: se um ponto se soltar ou sofrer deiscência, os demais permanecem intactos, preservando a integridade da sutura como um todo. Além disso, o controle da perfuração e da aproximação dos tecidos pode ser feito com mais precisão, reduzindo o risco de isquemia. Contudo, essa técnica exige maior tempo cirúrgico e maior quantidade de material, o que pode representar uma desvantagem em procedimentos longos ou em pacientes instáveis.

Por outro lado, as suturas contínuas consistem em um único fio passado ao longo da incisão com um nó inicial e outro ao final da linha de sutura. Sua principal vantagem é a rapidez de execução, sendo bastante eficiente para o fechamento de camadas longas ou quando o tempo operatório precisa ser reduzido. Além disso, ela distribui a tensão de forma mais uniforme ao longo da ferida, o que pode favorecer a cicatrização em tecidos bem vascularizados, como mucosa e subcutâneo. Essa distribuição homogênea, no entanto, pode se tornar uma desvantagem caso haja excesso de tensão em um ponto específico, pois o comprometimento de uma parte da sutura pode afetar todo o conjunto. Além disso, por depender de apenas dois nós, a segurança da sutura contínua está mais vulnerável à falha em caso de rompimento do fio.

Outro aspecto relevante está no controle do ajuste da tensão nos tecidos. As suturas interrompidas permitem modulação mais fina e localizada, enquanto as contínuas podem dificultar o ajuste ponto a ponto, especialmente se forem tracionadas de maneira inadequada durante a execução. O tipo de tecido também influencia essa decisão: tecidos frágeis, como as mucosas, podem ser mais beneficiados por suturas contínuas, desde que bem indicadas. Já em planos mais resistentes ou em situações que demandam maior segurança, as interrompidas são preferidas.

Em muitos casos, os cirurgiões combinam ambas as técnicas em diferentes camadas da ferida, aproveitando os benefícios específicos de cada padrão. Por exemplo, é comum utilizar uma sutura contínua para fechamento do subcutâneo e interrompida na pele, equilibrando velocidade de execução e segurança do fechamento superficial.

A decisão entre sutura interrompida e contínua não segue uma regra única, mas sim uma análise criteriosa do contexto cirúrgico, das características do tecido envolvido e da experiência do cirurgião. Ambas têm indicações bem estabelecidas, e o conhecimento técnico sobre suas vantagens e limitações permite ao profissional tomar decisões mais assertivas, contribuindo para o sucesso cirúrgico e a recuperação eficiente do paciente.


Referência bibliográfica

TOBIAS, K. M.; JOHNSTON, S. A. Veterinary Surgery: Small Animal. 2. ed. Elsevier, 2018.

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