Tesouras Cirúrgicas: Classificação e Técnicas de Empunhadura

As tesouras cirúrgicas são instrumentos essenciais na prática veterinária, sendo utilizadas para dissecação e corte de tecidos, além da manipulação de materiais cirúrgicos, como fios de sutura. Seu design varia de acordo com a finalidade específica, e fatores como o formato da lâmina e o tipo de ponta influenciam diretamente a eficiência e segurança do procedimento. A escolha adequada da tesoura, associada à correta técnica de empunhadura, permite maior controle e precisão, reduzindo o risco de trauma tecidual.


Classificação das Tesouras Cirúrgicas e Diferenças nas Pontas

As tesouras cirúrgicas podem ser classificadas com base em três características principais: tipo de ponta, formato da lâmina e tipo de borda de corte. Essas variações determinam a função específica de cada modelo.

Tipos de Pontas

As pontas das tesouras desempenham um papel fundamental na segurança e precisão do corte. Elas podem ser classificadas como:

  • Ponta Romba-Romba: Ambas as extremidades são arredondadas, reduzindo o risco de perfuração de estruturas adjacentes. São utilizadas em dissecação de tecidos moles e em procedimentos que exigem maior segurança, como cirurgias em áreas delicadas.
  • Ponta Fina-Fina: Possuem ambas as extremidades pontiagudas, permitindo cortes mais precisos e incisões em tecidos densos.
  • Ponta Romba-Fina: Combinam a segurança da ponta romba com a precisão da ponta afiada, sendo úteis para cortes controlados em tecidos de diferentes resistências.

Formato da Lâmina

O formato da lâmina influencia a mecânica do corte e a visibilidade durante o procedimento:

  • Lâmina Reta: Oferece maior vantagem mecânica e é indicada para cortes retos em tecidos superficiais e mais resistentes ou materiais cirúrgicos.
  • Lâmina Curva: Permite maior versatilidade e melhora a visibilidade em procedimentos realizados em planos mais profundos.

Tipo de Borda de Corte

As bordas das lâminas afetam a aderência ao tecido e a eficiência do corte:

  • Borda Lisa: Induz cortes suaves e precisos, sendo recomendada para tecidos menos resistentes.
  • Borda Serrilhada: Minimiza o deslizamento da tesoura, sendo ideal para tecidos densos, como cartilagens ou fáscias.

Principais Modelos de Tesouras Cirúrgicas e Suas Aplicações

Tesoura Metzenbaum

Possui lâminas finas e delicadas, representando aproximadamente um quarto do comprimento total do instrumento. É projetada para dissecação e corte de tecidos delicados, como subcutâneo e camadas finas de musculatura.

Tesoura Mayo

Apresenta lâminas mais espessas e robustas, correspondendo a um terço do comprimento total da tesoura. Indicada para o corte de tecidos mais densos, como fáscias e ligamentos.

Tesouras de Uso Geral

Incluem modelos como a tesoura de Spencer, utilizada na remoção de suturas, e a tesoura de Lister, que permite o corte seguro de curativos sem risco de lesão ao paciente.

Tesouras Especializadas

  • Tesoura de Cartilagem Martin: Possui lâminas serrilhadas, projetadas para cortar tecidos mais rígidos, como cartilagens.
  • Tesoura Potts-Smith: Apresenta lâminas anguladas e é amplamente utilizada em cirurgias cardiovasculares.
  • Tesouras de Tenotomia (Stevens e Wescott): Pequenas e precisas, são indicadas para procedimentos oftálmicos e delicados.

Empunhadura e Técnica de Uso

A maneira como a tesoura é segurada influencia diretamente a precisão do corte, o controle sobre o instrumento e o conforto do cirurgião. O posicionamento correto dos dedos nos anéis da tesoura é essencial para garantir movimentos firmes e controlados.

Posicionamento Correto

A tesoura deve ser segurada com os dedos polegaranular posicionados nos anéis, enquanto o indicador repousa sobre a haste, próximo à articulação. Esse posicionamento permite que o cirurgião direcione melhor o movimento do corte, garantindo estabilidade e controle. O dedo médio atua como um suporte adicional, posicionado entre o anel e a haste, auxiliando no equilíbrio da tesoura durante o uso.

Considerações sobre a Eficiência do Corte

Para cortes precisos, o ideal é utilizar a extremidade da lâmina da tesoura, pois essa região permite maior estabilidade do tecido entre as lâminas. Quando a tesoura é completamente fechada a cada movimento, podem ocorrer cortes irregulares. Para manter a uniformidade da incisão, a tesoura deve ser quase fechada, avançada e novamente quase fechada, repetindo o processo até o término do corte.

Uso da Tesoura para Divulsão

Além do corte, a tesoura pode ser utilizada para divulsão, um método que envolve a separação de tecidos por meio da abertura das lâminas dentro do tecido ao invés de um corte direto. Essa técnica é especialmente útil para estruturas frouxamente aderidas, como tecido subcutâneo, e permite a separação de planos sem causar danos excessivos. No entanto, essa abordagem não deve ser aplicada a tecidos mais resistentes, onde um corte preciso é necessário.

Uso Adequado para Cirurgiões Canhotos

A maioria das tesouras cirúrgicas é projetada para uso com a mão direita, garantindo o alinhamento ideal das lâminas para um corte eficiente. Quando usadas na mão esquerda, há perda de precisão devido à diminuição das forças de cisalhamento e torque. Para garantir um corte adequado, cirurgiões canhotos podem treinar o uso com a mão direita ou investir em tesouras adaptadas para canhotos, que possuem um alinhamento específico das lâminas.


Conclusão

As tesouras cirúrgicas possuem designs variados, cada um adaptado a necessidades específicas dentro da cirurgia veterinária. O conhecimento sobre os diferentes tipos de pontas, lâminas e bordas de corte é fundamental para a escolha do instrumento mais adequado a cada procedimento. Além disso, a técnica de empunhadura influencia diretamente a ergonomia do cirurgião e a qualidade do corte. Portanto, a seleção cuidadosa da tesoura, aliada à prática de uma empunhadura correta, contribui para um desempenho cirúrgico mais eficiente e seguro.


Referências Bibliográficas (Norma ABNT)

  1. FOSSUM, T. W. Cirurgia de Pequenos Animais. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.
  2. TOBIAS, K. M.; JOHNSTON, S. A. Veterinary Surgery: Small Animal. 2. ed. St. Louis: Elsevier, 2017.

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